
O milho é mais do que uma commodity. É um termômetro de como o Brasil enfrentará os desafios climáticos no curto prazo e um pilar para nossa posição de liderança no agro global.
O Brasil é um protagonista global na produção e exportação de milho. Em disputa constante com China e Estados Unidos, o país produz, em média, 130 milhões de toneladas por ano, sendo que cerca de 70% vêm da safrinha. Para 2024/25, a expectativa é de um recorde de 345 milhões de toneladas, consolidando o milho como a segunda cultura mais importante, atrás apenas da soja.
Mais do que ração animal e consumo humano, o grão tem papel estratégico na bioenergia e na indústria. Por isso, entender os impactos das mudanças climáticas sobre essa cadeia é um alerta crucial.
Clima, doenças e riscos crescentes
Um estudo da Embrapa publicado na revista Plants mostra que 46% das doenças agrícolas no Brasil tendem a se tornar mais severas até o fim do século. O milho está entre as culturas mais expostas a esse cenário.
Principais pontos de atenção:
- O aumento da temperatura média favorece fungos, vírus e bactérias.
- Eventos extremos de chuva prolongada criam condições ideais para o avanço de patógenos e dificultam o manejo em campo.
- Estimativas do IPCC apontam para um aumento de 2,5°C até meados do século no Centro-Sul do Brasil, o que intensifica a pressão sobre o milho.
O Brasil em contexto global
O programa europeu Copernicus alerta que a temperatura global já subiu 1,3°C em relação ao período pré-industrial, e pode passar de 4,5°C no Brasil até o final do século caso as emissões sigam no mesmo ritmo.
Apesar de ser líder mundial em biocontrole, o país ainda precisa avançar em:
- Novos bioherbicidas;
- Tecnologias que aumentem a eficiência no uso de nitrogênio;
- Soluções para reduzir o estresse climático nas plantas.
Estratégias de adaptação
A adaptação vai muito além de genética ou biotecnologia. Exige uma gestão integrada de risco climático, com decisões orientadas por dados de alta precisão:
- Identificação de janelas ideais de plantio, manejo e colheita;
- Aplicação eficiente de fertilizantes e bioprodutos;
- Uso de tecnologias de monitoramento climático e agrícola.
A agricultura brasileira já provou sua capacidade de adaptação e inovação. Mas diante da crise climática, o tempo de antecipação será decisivo para a sustentabilidade da produção e a segurança alimentar global.
Referências:
Angelotti, F., Hamada, E., & Bettiol, W. (2024). A comprehensive review of climate change and plant diseases in Brazil. Plants, 13(17), 2447.
Copernicus Climate Indicators: climate.copernicus.eu/climate-indicators/temperature