A Inteligência Artificial como aliada estratégica para enfrentar os impactos das mudanças climáticas na agropecuária brasileira foi o eixo central do painel Conect@, realizado no dia 11 de dezembro, durante o XV Congresso Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro 2025), evento acadêmico online promovido pela Universidade de São Paulo (USP) que reuniu pesquisadores, especialistas e representantes do setor produtivo.
Entre os debatedores esteve Dr. Thomas Martin, PhD em Ciências Atmosféricas e cofundador da MeteoIA, empresa brasileira especializada no desenvolvimento de sistemas baseados em Inteligência Artificial para previsão climática e análise de riscos ambientais. Em sua participação, Martin apresentou uma visão aplicada sobre como a IA pode superar limitações históricas dos modelos tradicionais de previsão do clima, contribuindo de forma concreta para a adaptação da produção agropecuária em um cenário de eventos extremos cada vez mais frequentes.
O painel teve como tema “O papel da inteligência artificial no apoio à adaptação da agropecuária às mudanças climáticas”, com moderação da Dra. Luciana Romani (Embrapa) e do Dr. Marcos Roberto Benso (ESALQ/USP), e contou ainda com a presença de especialistas da Embrapa, IPAM/MapBiomas, Cemaden e UmGrauemeio, reforçando a proposta do Conect@ de aproximar academia, setor público e empresas inovadoras.
IA além dos modelos tradicionais
Durante o debate, Thomas Martin destacou que a Inteligência Artificial permite avançar em dois pontos críticos da meteorologia e da climatologia aplicadas ao agro: a previsibilidade de médio e longo prazo e a resolução espacial das informações. Segundo ele, modelos numéricos clássicos, apesar de eficientes no curto prazo, enfrentam limitações computacionais que reduzem sua capacidade de detalhamento e antecipação de cenários futuros.
“A IA possibilita extrair padrões climáticos globais e regionais, integrando grandes volumes de dados atmosféricos e oceânicos, para gerar previsões mais precisas em horizontes de meses e até anos, além de oferecer informações em escala hiperlocal, fundamentais para a tomada de decisão no campo”, explicou Martin durante sua fala no painel.
Ele ressaltou que sistemas baseados em aprendizado de máquina conseguem incorporar dados de estações meteorológicas, características do relevo e variáveis ambientais para identificar efeitos locais, como impactos orográficos na precipitação ou ilhas de calor, ampliando significativamente a utilidade dessas informações para produtores, seguradoras, gestores públicos e o setor financeiro.
Da pesquisa à aplicação prática
Outro ponto central abordado por Thomas Martin foi o desafio de transformar conhecimento acadêmico em soluções operacionais. O executivo destacou a importância de pipelines automatizados de modelagem, capazes de levar resultados científicos para aplicações reais, superando a fragmentação comum em projetos de pesquisa que não chegam ao mercado.
“A inteligência artificial não substitui a inteligência humana. Ela precisa ser construída de forma adequada à aplicação, respeitando limitações de dados e contexto. Modelos excessivamente complexos, sem base histórica suficiente, tendem a falhar. O equilíbrio entre ciência, engenharia e entendimento do problema é fundamental”, afirmou.
Nesse contexto, Martin também defendeu o fortalecimento do ecossistema de inovação, com maior integração entre universidades, centros de pesquisa, startups e políticas públicas, além da ampliação do acesso a dados climáticos e ambientais de qualidade, como condição essencial para o avanço da IA no setor agropecuário.
Contribuição para a agenda climática e o agro brasileiro
A participação da MeteoIA no SBIAgro 2025 reforça o papel crescente das climate techs brasileiras na agenda de adaptação climática, especialmente em um ano marcado pela realização da COP30 no Brasil. Ao longo do painel, ficou evidente que a Inteligência Artificial tende a se consolidar como ferramenta-chave para gestão de riscos, planejamento agrícola, mitigação de perdas e construção de uma agropecuária mais resiliente e sustentável.
“O Brasil reúne uma combinação única de escala territorial, diversidade climática e relevância agropecuária. Isso nos coloca não apenas como usuários, mas como potenciais líderes globais no desenvolvimento de soluções baseadas em IA para clima e produção de alimentos”, concluiu Thomas Martin.
O debate do Conect@ SBIAgro 2025 reafirmou a importância da colaboração entre ciência, tecnologia e mercado para posicionar o país na vanguarda da inovação em agroinformática e no enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.

